Existe um assunto que muito me interessa mas poucas foram as oportunidades de dissertar sobre. Acredito que eu não seja a única que fique impressionada com o poder da mente humana e queira desvendá-la. Ainda que seja preciso fazer isso em doses homeopáticas, para que o que me atrai passe então a amedrontar.
Embora os sonhos tenham sido meu tema de trabalho de conclusão de curso, o que aprendi sobre isso foi pouco lendo e mais sonhando. Sou psicóloga, devota Junguiana, e até por isso devo concordar quando ele diz: “Aprendam o máximo, saibam o máximo e, depois, esqueçam tudo quando chegarem ao paciente.”
Os sonhos querem que saibamos muitas coisas. Até mesmo quando nos obrigam a fazer uma profunda investigação de seus símbolos e significados. Me diga, teria graça se não fosse assim?! Que pessoa aceita quando a verdade lhe é dita sem mais nem menos? Sem que tenhamos chegado lá com os nossos próprios pés?
Os sonhos nos auxiliam a passar por um processo muito importante, chamado de “individuação” por Jung - ou melhor - desenvolvimento da personalidade. Eles podem desempenhar muitas funções, como por exemplo: compensatória, prospectiva, reativa e por aí vai.
Afim de facilitar o entendimento de vocês, vou exemplificar como um sonho de função compensatória ocorre. Pense que um sujeito perde sua esposa repentinamente e, desde então, sente-se desolado durante dias a fio. Nada faz com que a dor passe. Apenas pensa nas palavras que gostaria de ter dito. Não come e pouco dorme. Quando consegue enfim pegar no sono, tem sonhos tumultuados. Em um deles, sonha que está chegando a sua casa e encontra a esposa. Ela está em seu quarto, deitada na cama do casal, e pede que ele junte-se a ela. Ela então se despede com um terno beijo dizendo que precisa descansar. Ele tem a chance de se despedir da amada, dizendo a ela o quanto a ama. Neste caso, a função do sonho foi compensar e equilibrar a psique do indivíduo, fazendo a sua regulação. Já nos sonhos reativos, vivências traumáticas são revividas repetidamente com o intuito de que essas memórias se desgastem. Uma pessoa que sobreviveu a um acidente ou grande catástrofe pode ter sonhos recorrentes com tal fato para que supere o trauma.
Existe uma gama de tipos de sonhos, suas funções e interpretações. Para quem se interessa, existe muito material sobre o assunto. Indico que leiam Jung e a Interpretação dos Sonhos: Manual de Teoria e Prática.
Por fim, os sonhos vêm para dar aquilo que precisamos; pistas de como trazer à luz da consciência aspectos inconscientes até então desconhecidos ou não aceitos pela psique. “Dentro de cada um de nós há um outro que não conhecemos. Ele fala conosco por meio dos sonhos.”
Nós, meros mortais, temos muitas defesas e armaduras que vestimos rotineiramente para nos proteger daquilo que é doloroso, daquilo que não queremos nem em sonho entrar em contato. Mas é preciso e não há como fugir. Cedo ou tarde, cada um de nós passará por este processo que, apesar de ser longo e solitário, é imprescindível para o conhecimento do nosso verdadeiro Eu.
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