De acordo com Winnicott, o falso self se origina quando a mãe não sustenta o sentimento de onipotência de seu filho, ou seja, não permite que a criança crie ilusões a partir de sua criatividade.
Para o bebê é de suma importância que a mãe dê condições para que ele construa a sua própria personalidade; o seu verdadeiro self.
Quando isto não ocorre, ele mesmo tenta suprir suas necessidades adaptando-se ao ambiente exterior. Desse modo, desenvolve dependência de estímulos do meio que sustentam o seu falso self e não permitem que ele tenha uma experiência realmente viva, sem deixar que seus impulsos se manifestem a fim de que satisfazer a si próprio.
No filme, um executivo chamado Patrick Bateman é um jovem inteligente, charmoso e bem sucedido. No entanto, ele pensa e age como um sociopata. Sua vida de aparências e privilégios não permite que ninguém desconfie dos assassinatos que comete. O seu principal requisito para despertar o seu desejo de matar é a inveja. Ele não admite que alguém seja melhor do que ele em algum aspecto de sua vida. Deste modo, age por vingança.
Em alguns momentos do filme Patrick demonstra insatisfação com este seu comportamento frio e calculista, e até impede a si mesmo que cometa outros crimes. Mas no fim de toda trama, parece contentar-se com sua conduta.
O personagem principal apresenta um falso self diante de seus colegas de trabalho e até mesmo de sua namorada, visto que aparenta estar adaptado ao ambiente no qual está inserido. Ninguém desconfia de seus verdadeiros anseios e seu desejo de matar, conhecia apenas sua estrutura de personalidade artificial.
Patrick Bateman possui impulsos agressivos que são reprimidos, tanto pelo meio ambiente quanto por ele mesmo. Isso pode ser verificado em diversas cenas ao longo do filme, como por exemplo, quando ele diz que há dois tipos de mulheres no mundo: as que ele sente vontade de tratar bem e outras que ele gostaria de ver a cabeça perfurada com uma estaca. Neste momento, os amigos que o rodeiam expressam incompreensão pelas suas expressões faciais. De certo modo, isso demonstra a falta de sustentação de seu verdadeiro self, desfavorecendo a sua espontaneidade.
O protagonista da trama permanece com o seu verdadeiro self oculto e necessita então sustentar a si próprio para exercer funções de proteção já que o ambiente não lhe proporciona isso. Segundo Winnicott
“aparentemente, essas pessoas podem levar uma vida normal e até obter grandes êxitos. Porém, nas relações afetivas, nas relações em que necessita de uma pessoa completa, o falso self começa a falhar. Fracassará provavelmente na relação com os filhos, na intimidade sexual e afetiva, nas facetas de seu desempenho nos trabalhos que necessitam espontaneidade e criatividade.”
É possível notar que Patrick permanece boa parte de seu tempo vivenciando o falso self e necessita de objetos externos para fazê-lo lembrar de quem ele realmente é. Isto é observado quando o personagem é convocado a opinar sobre o cartão de seus colegas de trabalho. Todos os cartões são muito bem feitos, com uma boa caligrafia e textura, fazendo com que ele os inveje e se sinta fragilizado. Neste caso o falso self é descrito por Winniccot como “o que o indivíduo possui de mais verdadeiro, mas também de mais primitivo e frágil”.
O telespectador compreende que ao assassinar as mulheres com quem se relaciona sexualmente ou pessoas que lhe despertem inveja e/ou interesse, Patrick está satisfazendo o seu impulso. Sendo assim, esta prática permitiria que indivíduo verdadeiro realizasse uma experiência viva. Porém, quando o filme chega ao fim, notamos que todos os crimes cometidos foram somente fantasiados. Este fator deixa claro que os assassinatos não passaram de ilusões que não possuem espaço na realidade.
Referências Bibliográficas
ABADI, SONIA. Transições: O modelo terapêutico de D. W. Winnicott. São. Paulo: Casa do Psicólogo, 1998.
Kommentare